28 abril 2015

mãe


Ele sabe muito bem descrever a figura que coloriu...

26 abril 2015

41º aniversário da revolução

Data importante que se assinalou ontem, mas que eu, por afazeres domésticos, parafernálicos, bricolágicos e afins, não pude aqui vir e registar. De qualquer forma, consciente da data, gostei de estar afastado e ausente do mediático e efémero registo da espuma do dia, pois sabia, sei, da inutilidade, do aborrecimento em que essas manifestações oficiais se transformaram. Aliás, durante oito anos (dois mandatos autárquicos), enquanto membro da Assembleia Municipal de Bragança, participei activamente nas celebrações do 25 de Abril, no concelho de Bragança e se nos primeiros anos eu ansiava pela data e pela oportunidade de discursar, reafirmando os valores da democracia e a primazia da liberdade, para mim valor supremo da condição humana; nos últimos anos era já com algum incómodo e aborrecimento que me via "obrigado" a repetir o discurso politicamente correcto de elegia à data e aos seus significados, pois aquilo que sentia (e sinto) no meu quotidiano é a prática de um esquecimento, de um branqueamento desses valores de Abril. Espero sempre que tudo isto possa ser definitivamente alterado e que eu possa estar equivocado, mas em todo o caso, lamento não vivermos, de facto, sob o desígnio desse momento refundador da nossa identidade nacional. 25 de Abril.

Guerra Junqueiro

Pois é verdade que não conheço a obra deste ilustre transmontano de Freixo de Espada à Cinta, mas a dedicação, a investigação, o gosto e o trabalho do amigo Henrique Manuel Pereira, que agora publicou em livro estes fragmentos, teve a virtude de me trazer a curiosidade de conhecer um pouco melhor a vida e a obra de Guerra Junqueiro.
Numa das badanas do livro podemos ler um excerto do prefácio assinado por Luís Machado de Abreu, da Universidade de Aveiro:
«Muitas são as vozes que, em diálogo, se fazem ouvir neste novo trabalho de Henrique Manuel Pereira. Leva-nos o autor em viagem diligente através da receção de Junqueiro, criador literário de exceção, que, por entre aplausos e repúdios, provocou paixões veementes e foi catalisador de virtudes e vícios tipicamente portugueses. [...] ao lado de páginas de documentação mal conhecida ou de todo ignorada e de luminosa hermenêutica textual, deparamos com a muito conveniente demolição de ideias feitas. Sempre em nome da restituição do rosto verdadeiro do homem e da herança literária que ele nos legou»
O lançamento aconteceu no passado dia 24 de Abril, pelas 19 horas, no auditório Carvalho Guerra da Universidade Católica, no Porto e a obra foi superiormente apresentada pelo Professor António Cândido Franco.
Resta-me referir, dar testemunho, da paixão do Henrique Manuel pela obra e vida de Guerra Junqueiro, pois desde há muitos anos - segundo ele desde 1991 - tem estudado, tem dedicado parte do seu tempo ao conhecimento do universo Junqueiriano.

23 abril 2015

baú da memória IX

Quando sei do desaparecimento de um velho amigo, recordo esses momentos de meninice em que convivi com ele e sua mulher. Conterrâneos e amigos de meus pais, era hábito encontrarem-se nas férias em Vila Boa, aproveitando esses dias de descanso para longos passeios e piqueniques no monte. Socorro-me do álbum de fotografias para o recordar e é com alguma nostalgia que revejo nele o homem simpático e brincalhão com as crianças que éramos. O Chico d'ó Cerdeiro vivia lá para os lados do Estoril, casa que visitei uma única vez. Regressava todos os anos à sua aldeia na Páscoa e no Outono, por altura dos Finados. Tinha um jipe - é a primeira recordação que tenho de andar num todo-terreno - no qual nos levava pelo termo da aldeia, por caminhos e ladeiras abismais.
A vida afastou-nos, o tempo passou por mim e por ele. Ontem faleceu, depois de um longo período doente, dizem-me. Não me recordo da última vez que estive com ele... talvez há dois, três anos, não sei. Os últimos contactos que tivemos, aconteceram através do Facebook, mas como entretanto abandonei essa existência, perdi-lhe o contacto. Lamento. Tristeza.


Nesta fotografia, de Agosto ou Setembro de 1977, está o Chico comigo e com o meu irmão Daniel em cima de uma meda de palha de trigo. Era por aventuras como esta que eu, nós gostávamos dele. Ficará a memória desses alegres tempos.

dia do livro

Em dia mundialmente nomeado como o do livro, não haveria melhor forma de o iniciar do que a receber um email de alguém que é Escritor, conhecido e reconhecido na nossa e noutras praças. Ainda que em jeito de reparo, foi uma feliz coincidência.
Não sinto especial necessidade de assinalar este dia, pois os livros estão sempre presentes na minha vida. Diariamente fazem parte das minhas rotinas de trabalho e de lazer, por isso apenas posso destacar aqueles que me tem acompanhado nos últimos dias e que, também hoje, estão comigo:



22 abril 2015

boa razão para o ler...

Já aqui tenho trazido o elogio à escrita de José Rentes de Carvalho. Apesar de ser uma descoberta relativamente recente, talvez com 10 anos, para a sua avançada idade, considero-o um dos melhores escritores da actualidade portuguesa. Com as devidas e relativas distâncias, Rentes de Carvalho será o Eça da modernidade. Conheço a totalidade da sua obra editada em Portugal e acompanho diariamente, sem excepção, o seu "tempo contado", lugar onde vai depositando e partilhando pedaços da sua escrita, dos seus humores e das suas amarguras. Gosto da sua escrita clara e concisa, da sua capacidade para descrever pessoas, lugares e recantos que, apesar de não conhecer, reconheço na imensa paisagem transmontana, dos seus diálogos que me recordam as conversas que ouvia pela aldeia, a figuras recortadas pelo tempo antigo. Tudo isto a propósito de um pequeno texto - "o rio somos nós" - que colocou no seu blogue (ver aqui) e onde remete para um texto que escreveu em tempos e ao qual, diz, retorna amiúde e do qual se orgulha ter escrito. Essa foi uma boa razão, diz ele, para o partilhar com todos nós. Eu li-o e, tal como quase sempre, é muito bom.

20 abril 2015

mediascape: o (um) mar de mortos

O Mar Morto é outro, mas nos últimos dias aquele que tem sido sepultura de milhares de indivíduos - sem nome, sem pátria de origem e sem destino legal - tem sido o Mediterrâneo. Perante tamanha catástrofe, continuamos, hipócritas, a dedicar-lhes minutos de silêncio, cuja totalidade já ultrapassará largas horas de homenagens.
A Europa, cujas fronteiras externas tendem a fechar-se a cada surto migratório que tenta penetrar no seu espaço, está há muito tempo sem solução para este drama. Sem sequer saber o que fazer. Agora, perante a sucessão de acidentes com essa massa anónima de gente que, a todo o custo, tenta chegar ao nosso território, são muitas as opiniões e muitos os críticos que, de ânimo leve, têm uma solução, ou melhor, a solução para estas situações. Alguns até defendem que a Europa deveria abrir totalmente as suas fronteiras e aceitar todas as hordas de emigrantes provenientes do Norte de África, concedendo-lhes o estatuto de refugiados, ou integrando-os nas nossas sociedades. Muito sinceramente não encontro uma solução aceitável para tamanho problema, mas em teoria parece-me que a sua resolução estará a montante, neste caso a Sul da Europa... O combate aos extremismos e aos fundamentalismos religiosos, o apoio efectivo - segurança e logística - às comunidades perseguidas, criando espaços, zonas, regiões e países neutros seria meio caminho para muitos abandonarem o caminho da morte, apesar de sabermos que do seu ponto de vista, a morte não se encontra aqui ou a caminho, mas sim lá onde pertencem.
Esta realidade, apesar de não ser novidade, assume proporções jamais vistas, levando-nos a perceber como a Europa, assim como a América do Norte, são espaços de exclusão, onde aqueles que, por acaso, aí nascem ou onde são cidadãos de plenos direitos, nem nos seus piores pesadelos experimentam a realidade miserável do resto do mundo. Mundo vertido e desequilibrado para Norte.

18 abril 2015

a quem interessar...

Do amigo Professor Doutor Henrique Manuel Pereira. Lá estaremos.

10 abril 2015

reciprocidades

As contas à moda do Porto são as certas e aquelas que melhor resolvem as diferentes relações e, acima de tudo, as variadas situações. Como princípio não tenho qualquer reserva em aceitá-las como a melhor forma de entendimento social. São justas, equitativas, não permitem melindres, nem ressentimentos e mantêm as simetrias relacionais - "cada um paga a sua despesa". O problema é que mesmo habituado a elas desde o berço, o ethos que me chega de para lá dos montes, impele-me para o pagamento da despesa de um amigo que me acompanhe, sem nunca, penso eu, ter prejudicado essa relação ou ter melindrado esse amigo. Até porque sei que numa outra qualquer situação similar será ele a pagar. São assim as contas à transmontana e eu sinto-me confortável com o seu princípio e a sua prática - "agora pago eu, depois pagas tu, depois pagará ele".
Esta reflexão comparativa entre dois diferentes sistemas de reciprocidade económica e social, acontece depois de várias situações em que não adequei o modo de retribuição à circunstância em que me encontrava. Passo a explicar: Tendo pago uma, duas vezes, seria expectável que numa outra vez esse alguém se disponibilizasse para pagar. Isso não aconteceu e o "modo" tripeiro impôs-se. Experimentei então não me adiantar no pagamento e ficar na expectativa, mas no momento de pagar apenas fizeram pagar a sua despesa. Muito bem, digo eu, aprendendo e servindo-me de lição, mudei de atitude. Continuo a fazer gosto em pagar aos meus amigos e a quem me merece, e nem por isso deixei de o fazer, mas apenas quando e onde sei que haverá, ou houve, reciprocidade. Adivinham, com certeza, o sistema que mais se adequa à minha personalidade?! Pois é, recordo com prazer as filas de Superbock em cima do balcão da taberna, à espera de serem consumidas, porque cada um dos convivas fez questão de pagar uma rodada. Bonita e eficaz forma de reforçar os laços de reciprocidade.

09 abril 2015

mediascape: majorados

São os números de telefone que os canais de televisão portuguesa apresentam diariamente, com especial incidência nos programas-maratona dos fins-de-semana e através dos quais coagem e extorsem os telespectadores. É impressionante a atitude insistente e agressiva dos pivots ou apresentadores desses programas, passando minutos e minutos de emissão a convidar e a persuadir as pessoas a ligarem. Para tal, utilizam argumentos terríveis, aproveitando-se da putativa fragilidade de seus interlocutores, tais como o desemprego, a crise e as contas para pagar, a despensa para encher e as prestações das casas e das escolas dos filhos. Inadmissível. Pelos vistos - leio hoje no Público - a ERC tem recebido inúmeras queixas e está atenta ao fenómeno, mas não terá competências para intervir. Aliás, parece que ninguém tem competências para resolver esta situação. Aquilo que os canais televisivos estão a fazer é crime, pois estão a enganar deliberadamente os seus públicos, garantindo prémios pecuniários que não podem entregar, pois estes são exclusivos dos casinos. Por outro lado, é uma vergonha os ditos canais servirem-se desses concursos como fonte de rendimento - segundo a mesma notícia do Público, "há casos em que o apelo à participação no concurso, através do apresentador ou apenas por ter o número a ocupar parte significativa do ecrã, foi feito durante 95% da duração do programa. Não é de admirar: tendo em conta os relatórios e contas, só a SIC e a TVI terão facturado em 2014 cerca de 50 e 65 milhões de euros , respectivamente em receitas de multimédia, onde se incluem estes concursos".
Por último, uma palavra de repúdio para essas vedetas que se prestam a tais papeis; estarem horas e horas de sorriso rasgado, enquanto enganam e vendem a banha da cobra. Bem sei que para ser animador de televisão não existe nenhum código deontológico, mas devia existir. Para além disso, a ética e o brio profissional não necessita de nenhuma lei ou código. Bem pesadas devem estar as suas consciências.

08 abril 2015

empty

É a sensação que transporto comigo há já alguns dias. Depois do stress dos acabamentos, da ansiedade e da expectativa pelo dia 27 de Março, dia do lançamento do livro, dei comigo em modo stand by, cansado, sem vontade e sem propósito. Sei o que tenho para fazer e escrever - nova edição já para o mês de Agosto e outra lá para o final do ano. Não faltam trabalhos, ideias e projectos, mas agora não. Não me apetece. Ainda estou, de alguma forma, envolvido com o trabalho que agora finalizei e sei que este ainda terá outras etapas ou fases que me implicarão com trabalho e disponibilidade.
Por estes dias a sensação plena de vazio reina, mas incomoda. Nada a ocupar-me o cérebro faz-me bem, mas cansa. Não gosto deste estado de alma, torna-me desleixado e preguiçoso. Quando regressar irá custar mais. Always the same.
(Delães, 31 de Março de 2015)

a quem interessar

reconforto pretérito


Lugar sagrado onde a melhor loiça e o melhor vidro era preservado para os dias de festa e de nomeada.
Altar da casa onde só os adultos, mormente as mulheres, podiam aceder para guardar ou retirar uma qualquer iguaria para presentear uma visita ou familiar.
Recantos com simples trancas que mantinham a estabilidade do lar e a sobrevivência da família.
Quantos segredos, desejos, vontades, necessidades se ocultavam por detrás dessas portas?
Olhar sobre o monte de escombros dessas pretéritas vidas é sempre uma atracção para mim.

07 abril 2015

intrigado

Porque raio a Igreja de Jesus dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida por Igreja Mórmon, faz a recolha e a digitalização dos registos paroquiais de todo o país e, pelos vistos, de todo o mundo ou quase?!... Desconhecia esse facto e agora que estou consciente dele quero encontrar respostas. Num primeiro momento, a reacção é pesquisa na internet, o que já fiz e aí encontrei algumas explicações e testemunhos mais ou menos esquisitas. A fundamentação teológica diz que "a pesquisa genealógica ou da história da família é uma precursora fundamental do trabalho do templo por nossos antepassados falecidos. Nós a fazemos para conseguir os nomes e outras informações genealógicas de modo que as ordenanças do templo possam ser realizadas por nossos queridos antepassados".
Encontrei também uma notícia de 2007 do jornal Público onde é dito que em Portugal existiam 20 centros de pesquisa que permitem traçar árvores genealógicas até ao século XVI e que o objectivo é recolher toda a informação civil e religiosa existente. Mas diz-nos mais...
"O Centro da História da Família/Biblioteca Genealógica de Lisboa é parte da Biblioteca de História da Família (Family History Library) que, por sua vez, integra a Sociedade Genealógica do Utah, que surgiu em 1894 financiada pela Igreja de Jesus Cristos dos Santos dos Últimos Dias. A Sociedade começou a microfilmar em 1938 e já percorreu mais de 110 países através de uma rede que inclui centenas de pessoas especializadas em História, estudos das regiões, biblioteconomia, micrografia e vários idiomas. Cerca de 200 câmaras estão actualmente a microfilmar registos em mais de 45 países. Os microfilmes originais estão depositados nas Montanhas Rochosas do Utah, numa estrutura à prova de sismo e de ataque nuclear que a Igreja designa por Cofre das Montanhas de Granito, já que o depósito guarda as películas sob 200 metros de granito, numa atmosfera com temperatura e humidade controladas. A colecção da Sociedade Genealógica do Utah inclui mais de 2,4 milhões de rolos de registos genealógicos microfilmados, 742 mil microfichas, 310 mil livros, fascículos e outros formatos, 4500 periódicos e 700 recursos electrónicos. A página de Internet alojada em www.familysearch.org informa ainda que a Sociedade Genealógica do Utah disponibiliza um Arquivo Ancestral com mais de 35 milhões de nomes ligados a famílias, um Índice Genealógico Internacional com mais de 125 milhões de nomes e um Arquivo de Recursos de Linhagem, que contém para cima de 80 milhões de nomes, também ligados a famílias".
Todo este investimento, segurança, para reunir esta informação?! Não sei, parece-me estranho, muito estranho. E agora mais intrigado fico. Vou procurar outras e mais respostas.

passagem de testemunho

Aproveitando uns curtos dias de descanso na aldeia, a família reuniu-se para a Páscoa. Dias primaveris que foram aproveitados para passear e, finalmente, o patriarca familiar ensinar-nos todas as terras que um dia herdaremos. Espalhadas pelo termo da aldeia, muitas delas estão já a monte e não se distinguem na paisagem, outras estão a ser trabalhadas por terceiros e outras ainda são chão para os passatempos agrícolas do Pai. Já há muitos anos que não ia tão longe no termo da aldeia e, assim, pude regressar a lugares que na minha juventude calcorreava sem tanto esforço. Belo passeio.








ao espelho


02 abril 2015

Manoel de Oliveira (R.I.P.)

Faleceu hoje, dia 2 de Abril de 2015, o cineasta Manoel de Oliveira que contava já com 106 anos de vida. Nunca gostei do seu trabalho. Aliás, nunca tive pachorra, nunca consegui ver um filme de sua autoria até ao fim. Contudo, isso não invalida o sentimento de perda para a cultura nacional e o reconhecimento pela sua obra. Curioso é o facto de ainda aqui há dias ter lido um artigo na revista Ler, onde, a propósito de um livro - António Ferro, o Inventor do Salazarismo (Dom Quixote), se fala de Manoel de Oliveira como uma das mais pesadas e duradouras heranças desse António Ferro. Bem sei que o momento é de elegia ao falecido, mas as palavras de Orlando Raimundo nesse artigo são marcantes:

«Uma das mais pesadas e duradouras heranças de António Ferro é... Manoel de Oliveira-cineasta. Isso mesmo. A transformação do estouvado corredor de automóveis, de jovem diletante, oriundo de uma família da alta burguesia, em cineasta de talentos duvidosos, passa integralmente por ele. Por estranho que isso possa parecer, passadas mais de oito décadas, o mito e a projecção internacional de Oliveira, que sempre intrigaram o comum dos portugueses, são uma criação conjunta de Ferro e de outro adepto convicto do nacional-fascismo, apoiante incondicional de Salazar e da ditadura: António Lopes Ribeiro, o cineasta oficial do regime». (In revista LER nº 137, pp.116)

01 abril 2015

às voltas com estas palavras...

Por outro lado, se eu tivesse um nome
um nome que me fosse    realmente   o meu nome
isso provocaria
calamidades
terríveis
como um tremor de terra
dentro da pele das coisas
dos astros
das coisas
das fezes
das coisas.
(Mário Cesariny)