27 dezembro 2017

mediascape:rentismo

Aproveito estes dias de vazio, de horas repletas de nada, para ler, ler e ler. Guardei até estes dias o Le Monde Diplomatique e agora, tal como é frequente, encontro excelentes textos e artigos que me fazem reflectir. Como logo no editorial, Sandra Monteiro escreve a propósito do adiamento da proposta de criação de uma contribuição de solidariedade sobre os produtores de energias renováveis:
Configurando um caso de rendas excessivas, nada justifica a manutenção dessas condições de excepção. A criação de uma sobretaxa viria apenas mitigá-las. Nenhuma preocupação ecológica pode justificar este privilégio. (...) Ela apenas garante lucros estratosféricos, e quase sem riscos. Entendeu o governo que havia que estudar melhor o desenho da medida e as consequências que ela poderia ter sobre potenciais investimentos na economia, em particular na compra de dívida portuguesa, e sobre a eventual litigância na justiça. Será de acompanhar com o maior interesse a evolução dessa reflexão e desse estudo. Será mesmo um acto fundamental de cidadania. Porque o que dele resultar será decisivo para se compreender se os Estados e os poderes políticos nacionais têm (ou não) capacidade para defender os seus povos para lá do simples apagar de fogos a seguir à fase aguda de cada crise. Isto é, será um laboratório muito útil para se concluir se é possível afrontar o parasitismo rentista de empresas transaccionais sobre os Estados nacionais, mesmo em sectores tão estratégicos para a economia como a energia. (...) Muito útil, por fim, para se compreender que respostas dará a União Europeia a Estados, como o português, que para saírem desta armadilha da dívida e do rentismo, tenham de colocar em cima da mesa propostas robustas de reestruturação da dívida pública.
(negritos meus)

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