31 agosto 2016

mediascape: privado falido

Enquanto vou assistindo ao processo de destituição de Dilma Rousseff no Brasil, faço zapping e apanho as notícias das 18 horas e uma peça sobre um colégio ou escola privada - Arcorensis, cooperativa de ensino, em Vila Praia de Âncora, que tendo vivido às custas dos contratos com o ministério da educação, vai encerrar as portas por falta de financiamento e já não abre neste início de ano lectivo, o que deixou surpresa em toda a comunidade escolar local.
Excelente exemplo daquilo que estava errado no antigo modelo de atribuição de subsídios do Estado, pois bastou este fechar a torneira para o dito colégio privado pura e simplesmente fechar as portas, ou seja, era totalmente dependente do financiamento público. São casos como este paradigmáticos do rentável negócio do ensino em Portugal e que importa denunciar por todo o país. Nunca esteve em causa a existência de oferta privada no ensino, mas sim todas as situações de fraude e de total subsídio dependência.
Agora no ensino, num futuro próximo na saúde. Assim seja.

mediascape: impeachment brasileiro

Fui acompanhando à distância o processo de destituição da Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ao longo dos últimos meses. Agora que o processo chegou ao fim e o Senado está a votar a destituição definitiva e o impedimento de ocupar cargos de eleição durante oito anos, acompanho, através da Globo News, essas votações e seus debates. Dilma foi condenada e perdeu o mandato com uma votação de 61 votos a favor e 20 contra. Está consumado o golpe. Sim, trata-se de um autêntico golpe de estado. É inacreditável como, sob um discurso e um ritual que obedece às regras e aos princípios democráticos e republicanos, um bando de corruptos e criminosos engravatados derrubam uma Presidente honesta e democraticamente eleita. Ouvir os senadores brasileiros que, sem vergonha e curvados pelo peso de tantos indícios de fraudes e crimes, se permitem ajuizar a presidência da República, é perturbador e demonstrativo da podridão ética e moral que atravessa a elite política brasileira. Lamento muito. Um país com as potencialidades do Brasil não consegue libertar-se das amarras e dos estigmas do terceiro mundo, ao qual parece estar destinado a pertencer eternamente.

12 agosto 2016

a falta que me faz

Nas horas que antecedem a partida para aquilo que toda a gente denomina de férias e que para mim, espero, possam ser horas, dias e semanas de algum descanso, leituras e algum trabalho de campo, ocorre-me a falta que sinto do café Lexinho. Há dois, talvez três anos a família resolveu fechar definitivamente a antiga taberna, agora café, deixando-me órfão de lugar para estar e socializar na pequena aldeia, que apesar de não me ter visto nascer, é a ela que eu me sinto pertencer.
O Lexinho, alcunha do seu proprietário, o Sr. Mário dos Santos, entretanto falecido, era uma personagem peculiar, reconhecido negociante e conhecido por toda a região. Amigo do seu amigo, era um conversador nato e contador de histórias inacreditáveis e caricatas. Quando o recordo lamento não ter conversado mais com ele, não ter aproveitado a sua fantástica memória e sabedoria. Enfim.
A taberna para onde eu diariamente ia, onde eu estava e onde toda a gente me conhecia, era o meu lugar em Vila Boa no Verão, no Natal, Carnaval e Páscoa, assim como em muitos fins-de-semana. Mais tarde, por razões maiores, só a espaços ia à aldeia, mas foi lá que passei as melhores tardes de Domingo, à conversa ou, de preferência, a jogar à Blota - jogo de cartas importado há muitas décadas e adaptado pelos locais, jogado com baralhos de cartas espanholas. Recordo também os finais de tarde em que regressando da escola de Vinhais onde leccionava, me sentava na sua pequena esplanada a beber cerveja e a contemplar o horizonte a poente e a conversar com os poucos que apareciam ou passavam.
Agora só pontualmente vou à aldeia e para além de visitar um ou outro familiar, recolho-me em casa e por lá fico nas brincadeiras com os miúdos ou nas minhas actividades de sempre. Com tristeza a aldeia perde centralidade na minha vida e essa nostalgia que me acompanha, relembra-me sempre como o tempo passa célere e como as referências, apesar de todas as distâncias, se mantêm. Faz-me muita falta esse lugar.

10 agosto 2016

mediascape: país que arde e toda a gente vê

Anda o país a arder e estamos todos muito preocupados com a situação. Vivemos nos últimos dias sob um céu de fumo que se vai estendendo por todo o país. As imagens desses incêndios são sempre impressionantes, mas aquelas que ontem, e ainda hoje, nos chegam da Madeira são dantescas e aflitivas. Como é possível?
Bem sei que em tempo de guerra não devemos desviar a atenção que deve e tem que estar toda concentrada no combate aos fogos e na salvaguarda das vidas humanas e dos seus bens, mas na verdade não podemos deixar de questionar: Como é possível?
Sabemos todos, sabe o Estado e suas instituições, sabem as corporações de bombeiros, sabe o Governo e seus elementos que este é um fenómeno cíclico e que, por estes meses, todos os anos, aqui, ali ou acolá estas coisas acontecem. Portanto, o país deveria estar equipado e preparado para dar resposta a estas situações.
Depois, temos a questão da floresta e aí não basta ao Primeiro Ministro dizer que temos que requalificar a nossa floresta. Para além de ser uma verdade, não é em tempo de crise que se fazem afirmações dessas, pois não passam de um mero recurso discursivo do politicamente correcto. O ordenamento do território, a gestão dos recursos florestais, a selecção das espécies de árvores e da flora são assuntos que requerem planeamento, tempo e muito dinheiro. Algo que já deveria estar feito há muito tempo e continua por fazer. Para além disto, o cadastro das propriedades e a sua limpeza é outra das premissas a ter em conta nesta requalificação, pois em cada imagem que nos chega dos cenários a arder, podemos identificar circunstâncias e caracteres altamente inflamáveis e pasto para as chamas dentro das localidades e à volta de cada habitação. Como é possível?
Os incêndios e os fogos são uma indústria forte em Portugal (assim como, provavelmente, noutros países), e que sempre funcionou e foi gerido de uma forma obscura. Os negócios que se fazem, os valores que se envolvem e as pessoas que com isso lucram, é tudo desconhecido dos portugueses, pois esses cartéis vivem sob o lema do voluntariado dos bombeiros e da simpatia do povo para com os seus heróis que, muitas vezes, dão a vida nessa luta. É por isto, também, que me revoltam as campanhas de solidariedade que surgem sempre nestes momentos, com peditórios de água, leite e alimentos para os bombeiros. Caramba, o Estado nem isso consegue fornecer às corporações? Como é possível?
Mais duas questões: porquê é que os fogos continuam a ser combatidos por "voluntários" e não por profissionais? e, porque é que não se podem utilizar meios aéreos no combate às chamas durante a noite?
No fim, sou e estou solidário com todos os homens e mulheres que dão o corpo ao manifesto e enfrentam a besta do fogo; estou e sou solidário para com todos aqueles que perdem os seus familiares e os seus bens.

08 agosto 2016

rotas e gastas, que raio de moda

Não consigo perceber o sentido estético ou a beleza que as pessoas, nomeadamente as mulheres, encontram nas calças rasgadas ao longo das pernas. Ainda mais me custa perceber como é que elas conseguem gastar euros, por vezes muitos, a comprar calças já rasgadas. Claro que nada tenho com isso e cada um faz o que quer com o dinheiro e cada um tem o seu gosto e sentido estético, mas a confusão no meu cérebro é real e justificada pela memória que teima em recordar-me o conceito de roupa nova, ou se preferirem, a ideia de comprar roupa nova. Não é birra de idade adulta ou má vontade, é mesmo uma questão de racionalidade e de bom senso.
Não será preciso recuar muitos anos ou décadas para encontrarmos aquilo que acontecia com a maioria da roupa e o cuidado que ela merecia por parte de quem a vestia ou comprava. Comprar ou usar roupa nova significava usar peças impecavelmente bem feitas, sem qualquer defeito e com garantia. Aos olhos desse tempo, as peças de hoje têm todas defeito e não são passíveis de qualquer garantia por parte dos fabricantes, pois já estão acabadas, rotas, descosidas e afins. É a perversão completa dessa ideia. Por outro lado, essa mesma memória leva-me até ao tempo em que as nossas mães e avós, viviam agarradas à linha e agulhas ou à máquina de costura para coser e recoser a roupa, para fazer remendos, para tentar dar longevidade às peças que teimavam em desgastar-se.
Esta questão ganhou relevância na minha vida a partir do momento em que a adolescente que lá tenho em casa começou a olhar para essas calças e a dizer que também gostava de ter calças assim. Claro que não, disse eu. Nem pensar em gastar dinheiro em calças já gastas e todas cortadas. Não faz sentido e fere-me a memória. Uma coisa são as calças que naturalmente se vão gastando e depois poderão ser utilizadas para mostrar pedaços das pernas, outra coisa é investir em roupa rota e gasta.
Não e não.


sempre, sempre, a luta

Justiça seja feita ao Jornal Público que não esquece a questão do Acordo Ortográfico e mantém a luta pela defesa da língua portuguesa. Este artigo é do dia de ontem, dia 7 de Agosto.

05 agosto 2016

apenas miúdos


Não sendo um conhecedor da obra de Patti Smith, foi com entusiasmo e avidez que li em pouco mais de 24 horas o seu livro "Apenas Miúdos". Neste seu primeiro livro em prosa, ela guia-nos pela sua memória ao longo da sua infância e, principalmente, ao longo do final da década de sessenta, setenta e oitenta. Através da sua escrita sensata é-nos dado a conhecer Nova Iorque e suas transformações: as suas ruas, cantos e recantos, lugares vividos e espaços experimentados. Num discurso na primeira pessoa, Patti Smith reconstrói o seu crescimento enquanto mulher e artista e dá-nos a conhecer a cena musical e artística e muitos dos personagens que povoaram Nova Iorque daquela época. Só no fim do livro nos confidencia a sua verdadeira motivação: prometera a Robert Mapplethorpe (na foto), o seu companheiro de "viagem" e também artista visual, quando este estava a morrer, que um dia escreveria a história da caminhada que juntos fizeram.
Tenho para ler o seu mais recente livro, "M Train", mas vou deixar para mais tarde. Partirei agora para outros e ainda desconhecidos universos.

03 agosto 2016

a luta que se mantém...

(In jornal Público, 2 de Agosto de 2016)

01 agosto 2016

aí está ela, a luta...

saber popular

Diz a sabedoria popular, pelo menos aquela que habita e conhece essa realidade, que é nas três primeiras noites do mês de Agosto que as castanhas germinam nos castanheiros. Para tal acontecer, o ideal é que as noites sejam calmas, com ou sem luar, mas sem humidade e sem vento. Se assim for a colheita estará assegurada e, lá para Novembro, podem esperar-se dias e dias de apanha e grande estafa. Assim seja.

falta de vergonha

Inadmissível o comportamento da empresa Metro do Porto que, nos dias um de cada mês, dia em que maior parte dos seus "clientes" recarrega os passes e os andantes, transforma as suas vidas num caos. Não é o primeiro, nem o segundo mês, é já um comportamento habitual, em que as máquinas existentes nas estações do Metro não aceitam dinheiro, ou não aceitam cartão, ou não aceitam moedas, ou não aceitam notas, ou não dão troco, ou seja, tornam impossível o recarregamento dos passes e andantes. Claro que mais logo ou amanhã já estará tudo a funcionar em pleno.
Trata-se de uma verdadeira e inqualificável falta de respeito para com os utentes e utilizadores do serviço de metro, numa atitude bem característica das empresas que vivem com o monopólio ou a exclusividade nos seus sectores. Haja alguém (administração) com vergonha e que normalize a situação.