28 abril 2016

citação de antanho

Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o país estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando chegar a altura de mandar. 
(António de Oliveira Salazar, discurso de tomada de posse como ministro das finanças, em 28 de Abril de 1928). 

27 abril 2016

mediascape: a arte, o património nacional e a política cultural


Soubemos hoje que, finalmente, Portugal, os portugueses conseguiram reunir o valor monetário necessário, 600 mil euros, para manter em nossas mãos o quadro "Adoração dos Magos" (1820), de Domingos Sequeira. Foi um processo difícil, de crowdfunding, que durante cerca de seis meses reuniu contribuições de vários cidadãos anónimos, de várias figuras públicas e de várias instituições, das quais importa realçar a Fundação Aga Khan que contribuiu com um terço do total desse valor, assim como a Fundação da Casa de Bragança que, recentemente, completou o valor total com uma doação de 35 mil euros.
Para além da natural e lógica satisfação pelo sucesso desta importante e imensa iniciativa, importa-me destacar a pobreza e a infelicidade de não termos um Estado capaz de cuidar e valorizar o seu património histórico e artístico. É triste o Estado não assumir as suas responsabilidades, não assegurar o interesse cultural nacional e estar dependente da iniciativa privada e de uma espécie de "mecenato" cultural. Para além do resto, parece-me arbitrário e perigoso o património nacional depender da boa vontade de a, b, ou c, enfim, da iniciativa privada. Queremos um Estado que salvaguarde a nossa história, o nosso património e a nossa memória. Entretanto, fico muito satisfeito por saber que, em breve, este quadro poderá ser por todos contemplado no Museu Nacional de Arte Antiga.

a quem interessar...


Para mais informações e programa de actividades, consultar aqui.

26 abril 2016

da taberna e do lavadeiro (1)

Certo dia, o Sr. Taroldino*, funcionário judicial no tribunal de Macedo de Cavaleiros, teve que se deslocar a Bragança por motivações pessoais. Durante esse dia foi comentando com os colegas sobre essa viagem de final de tarde. Ao tomar conhecimento, um dos magistrados desse tribunal, logo o procurou para lhe pedir boleia. Então, à hora combinada lá arrancaram em direcção a Bragança no carro do Sr. Taroldino. Ainda não tinham chegado ao cruzamento da estrada nacional 102 com a nacional 15 e já o condutor estava saturado das reclamações e reprimendas que o Sr. Dr. Juíz fazia da sua condução. A determinado momento, num acto desesperado, o Sr. Taroldino encostou o carro na berma da estrada, parou e, perante a estupefacção do ilustre pendura, disse:
- Ó Sr. Dr. Juíz, a estrada é de todos, mas o carro ainda é só meu. Queira fazer o favor de sair.

* Nome fictício, apesar de ainda não ter decidido se irei manter os nomes verdadeiros ou não.

"histórias de taberna e de lavadeiro"

Tal como aqui já referi, continuo a coleccionar histórias e estórias do nosso povo e de um tempo pretérito. Desse passado mais ou menos longínquo e que pela sua peculiaridade e/ou graça foram sobrevivendo ao tempo. O primeiro grupo dessas histórias foi publicado em 2008 naquilo a que dei o nome de "histórias de escano e de soalheira", agora e quando já reuni outro grupo considerável de histórias, vai sendo tempo de encontrar um mote que agregue todas elas em lugares praticados, sentidos e vividos do mundo rural. Num primeiro momento, parece-me interessante fazer a alusão à taberna e ao lavadeiro, enquanto espaços de socialização diferenciada, ou seja, espaços de exclusão associados a cada género. O lavadeiro, apesar de ser um lugar de trabalho e de rotinas, era usado pelas mulheres para porem a conversa em dia, trocarem confidências e disseminar factos, boatos e suspeitas relativas à comunidade e seus membros. A taberna, sendo um lugar de frequência quase exclusiva masculina, era usado como arena de socialização, na qual o universo da comunidade era igualmente comentado, afirmado e questionado. Ainda que representassem dimensões distintas de uma mesma realidade, sabe-se que durante décadas estes dois lugares contribuíram para a manutenção de muitas das histórias que hoje podemos ouvir e reproduzir. Assim, sintam-se em vossa casa e apresentem sugestões para título...

hoje recebi um presente


Sempre uma alegria ser presenteado com um livro, ainda por cima, num dia ordinário sem qualquer motivação especial, a não ser a amizade. Obrigado amiga.

17 abril 2016

instante urbano xxxv

Mãe a vestir o seu pequeno filho:
- Hoje levas estas calças novas para a escola...
- Ai é Mamã?! Estas calças são novas?
- São.
- Então não vou poder pôr macacos nelas...

09 abril 2016

mediascape: despudorada cleptocracia

Poucos dias depois do vergonhoso julgamento dos activistas angolanos, chegou-nos a notícia de que Angola pediu, ou se prepara para pedir, ajuda ao FMI para resgatar as finanças do Estado angolano. Um país governado há longos anos por uma pequena elite, com ligações familiares e de compadrio, naquilo que poderemos designar de cleptocracia, com um território vasto e riquíssimo nos seus recursos naturais, tem vivido quase exclusivamente às custas da exploração e comercialização do petróleo. Tantas décadas depois e tantos milhões realizados nesse filão e nem sequer infra-estruturaram o país, não investiram em qualquer outro sector de actividade e os serviços do Estado são altamente deficitários. Sobra essa pequena elite de privilegiados que, numa relação de subserviência, vivem à sombra do Estado, usufruindo da riqueza do país em benefício exclusivo e próprio. Essa elite beneficiou e continua a beneficiar. Essa elite enriqueceu e continua a enriquecer.
O paradoxo da situação do Estado angolano é gritante... enquanto um pequeno grupo continua a investir no estrangeiro e, em particular, em Portugal, num processo que mais parece uma contra-colonização, a generalidade da população vive, literalmente, na miséria.
Este pedido ao FMI é a manifestação pública da incompetência dos seus governantes e, em especial, do seu presidente, assim como é uma declaração despudorada da impunidade que existe perante o tremendo saque que vitimou os angolanos. Lamentavelmente, serão estes, uma vez mais, a pagar a factura, ou seja, serão estes quem continuará a sofrer da miséria crónica e histórica.
Por outro lado, poderá ser este o momento que determinará o fim político de José Eduardo dos Santos e do seu clã. Estaremos já no extertor do seu regime?! Aquilo que mais me irrita é saber que todos os investimentos realizados no estrangeiro estarão sempre a salvo e jamais serão revertidos em favor do estado. Mas era isto que deveria acontecer.

04 abril 2016

03 abril 2016

o nojo

Ainda que com uns dias de atraso, que atribuo aos muitos quilómetros que efectuei, ao estado febril e à pouca vontade de teclar. Depois dos factos, depois das notícias e depois de todos os comentadores terem emitido as suas doutas opiniões, eis que a Assembleia da República Portuguesa decidiu, através dos seus deputados eleitos pelos(as) portugueses(as), apresentar um voto de repúdio pelo caso do julgamento e sentença, conhecida recentemente, dos dezassete activistas angolanos, em Luanda. Para além dos factos conhecidos e que envergonharam qualquer cidadão que acredite na liberdade e num estado de direito, a atitude da maioria dos nossos representantes, quero dizer as bancadas do PSD, do CDS e do PCP, ao chumbarem os votos apresentados pelo BE e pelo PS, representam não só uma vergonha para todos nós, como nos enoja saber que esses deputados preferem manter uma estúpida e incompreensível subserviência ao estado Angolano, do que serem nossos fiéis e legítimos representantes. Alguém duvidará que a maioria dos portugueses discorda e repudia aquilo que aconteceu em Luanda com esses presos políticos? Alguns dos nossos deputados preferem ser mercenários dos dólares com que a cleptocracia angolana os presenteia. Vergonha e acima de tudo, nojo dessa gente. Um orgulho, uma honra pertencer à família do Bloco de Esquerda, o único partido sem qualquer dependência desse dinheiro manchado de sangue e de miséria.

sinal dos tempos...

Fui encontrar a minha criança, que passava férias da Páscoa com os avós, com uma anormal boa disposição. Uma das primeiras coisas que me disse, depois de reclamar o presente que eu lhe prometera quando o lá deixei, foi repetida e claramente afirmar:
- Eu sou gay!
- Eu sou gay!
- Eu sou gay!
Gritava com a convicção de quem não sabe o que está a dizer, mas quer desafiar. Por isso, perante o descontentamento dos avós, perguntei-lhe:
- Ai és?
- Sou. Eu sou gay!
- Então e sabes o que isso é?
- Sei, claro que sei.
- Então diz-me lá...
- É gostar muito das meninas. Eu gosto muito das meninas, por isso sou gay...

01 abril 2016

mediascape: o dia e a mentira

Neste dia em que é costume poder-se dizer mentiras, tentando com elas enganar os mais incautos, apetece-me gritar que, na verdade, actualmente vivemos uma gigantesca mentira. Tudo quanto nos chega aos sentidos, sob rótulo de "informação", é engano ou equívoco. Paremos um instante para reflectir sobre a realidade que nos envolve, absorve e dissolve... parece real? será possível? Nem vale a pena procurar exemplos para aqui trazer, pois a velocidade e a intensidade da informação a que estamos sujeitos, transporta-nos para um caleidoscópio vertiginoso de sensações e emoções, do qual, em condições pretéritas, jamais quereríamos participar. A realidade é, em si e per si, uma assustadora mentira na qual permaneceremos. Assim, não faz mais sentido assinalar este dia, pois a mentira permanece, acto contínuo, connosco durante os restantes dias do ano. Digo eu.